30-05-2011 18:58
PERTURBAÇÕES DA MEMÓRIA
As perturbações da memória mais frequentes têm origem em problemas orgânicos – em resultado, por exemplo, de traumatismos cranianos ou acidentes vasculares cerebrais. Acontece também serem uma característica do estado de demência.
A amnésia pode também ser induzida pela ingestão prolongada e abundante de substâncias como o álcool, sedativos, ansiolíticos e hipnóticos, enuncia o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, da American Psychiatric Association. Também o stress ou um episódio de natureza traumática são capazes de gerar a incapacidade para recordar informação pessoal verdadeiramente importante. Esta perturbação da memória sem razões orgânicas, demasiado vasta para ser explicada como vulgar esquecimento, é conhecida como amnésia dissociativa.
São descritos vários tipos: na amnésia localizada, a pessoa é incapaz de recordar acontecimentos de um período de tempo circunscrito, geralmente as primeiras horas após algo perturbador – por exemplo, um sobrevivente ileso de um acidente de viação em que morreu um membro da família pode não ser capaz de recordar, até dois dias mais tarde, o que aconteceu; na selectiva a pessoa pode recordar só alguns acontecimentos num período de tempo – um veterano de guerra pode lembrar-se só de algumas partes de uma série de combates violentos.
Há ainda três outros tipos de amnésia menos comuns. A generalizada tem a ver com a incapacidade de recordar toda a vida. São as pessoas com esta perturbação que costumam aparecer na polícia ou na urgência hospitalar. Já a amnésia contínua implica falta de capacidade de recordar a partir de um ponto no tempo. E a sistematizada afecta a perda de memória em relação a certas categorias de informação, como todas as recordações relativas à família ou uma pessoa em particular.
Catarina Gomes, Público, 2005-05-29
"Um sobrevivente ileso de um acidente de viação em que morreu um membro da família pode não ser capaz de recordar." Justifique porque isso pode acontecer.
Certamente que o individuo sofre de amnésia dissociativa.
A amnésia dissociativa é uma incapacidade de recuperar informação pessoal importante, geralmente de natureza stressante ou traumática, a qual é muito generalizada para que possa considerar-se como um esquecimento individual.
A perda de memória inclui, de um modo geral, informação que faz parte do conhecimento consciente habitual ou memória «autobiográfica» (quem é, o que fez, onde foi, com quem falou, o que disse, pensou e sentiu, etc.). Há ocasiões em que a informação, embora esquecida, continua a influenciar o comportamento da pessoa.
As pessoas com uma amnésia dissociativa têm, habitualmente, uma ou mais lacunas de memória que se estendem de poucos minutos a algumas horas ou dias. No entanto, registaram-se algumas lacunas de memória que envolvem anos ou inclusive a vida inteira. Usualmente os períodos confinantes com a lacuna de memória costumam ser claros. Geralmente, as pessoas têm consciência de que «perderam algum tempo», mas alguns amnésicos dissociativos só ficam conscientes do tempo perdido quando se dão conta ou são confrontados com a evidência de que fizeram coisas de que não se lembram. Algumas pessoas com amnésia esquecem alguns mas não todos os acontecimentos de um período de tempo; outras não podem recordar nada da sua vida anterior ou esquecem coisas à medida que vão ocorrendo.
A incidência da amnésia dissociativa é desconhecida, mas a perturbação é mais frequente nos adultos. A amnésia é mais frequente em pessoas que se encontraram envolvidas em guerras, acidentes ou desastres naturais. Há informação sobre casos de pessoas que tinham amnésia de episódios de abusos sexuais na sua infância e que mais tarde, já adultos, recordaram os episódios. A amnésia pode ocorrer depois de um acontecimento traumático e a memória pode recuperar-se com o tratamento, com acontecimentos posteriores ou com a informação que a pessoa recebe. No entanto, não se sabe se essas memórias recuperadas reflectem acontecimentos reais no passado da pessoa. Demonstraram-se recuperações de memórias tanto exactas como inexactas.
A amnésia dissociativa parece ser causada pelo stress (a experiência ou a visão de experiências traumáticas, situações de stress graves na vida ou graves conflitos internos). Os episódios de amnésia podem ser precedidos por abusos físicos ou experiências sexuais e situações emocionalmente esmagadoras nas quais existe ameaça, lesão ou morte (como uma violação, uma guerra ou um desastre natural, como um incêndio ou uma inundação). As situações de maior stress na vida incluem o abandono, a morte de um ser querido e a ruína financeira. Também podem conduzir à amnésia a inquietação por impulsos de culpabilidade, dificuldades aparentemente insolúveis ou comportamentos criminosos. De um modo geral, aceita-se que algumas pessoas, como as que são facilmente hipnotizadas, sejam mais propensas a desenvolver amnésia do que outras.