30-05-2011 19:02
A sexualidade humana
Entrevista com Jean Didier Vincent, professor no Instituto Universitário de França e director do Instituto Alfred Fessard. É autor dos livros La Biologie des Passions e La Chair et le Diable (Ed. Odile Jacob, 1994).
“Em que é que a sexualidade humana diverge da sexualidade animal?
Ao nível biológico, as sexualidades humana e animal são extremamente semelhantes. O ser humano possui com efeito os mesmos neurónios e sintetiza as mesmas hormonas cerebrais que os gorilas, os chimpanzés e, sobretudo, os bonobos, considerados hoje os mais próximos do nosso antepassado comum. Mas, no decurso da evolução, o ser humano realizou um salto qualitativo maior que permitiu que o seu cérebro – concretamente o seu neocórtex – se desenvolvesse de um modo extraordinário, dotando-o de novas faculdades: as de categorizar, realizar operações abstractas, associar os objectos às palavras... E de passar assim a uma escala superior na sua capacidade de socialização. Transformou-se por isso num ser emocional, quer dizer, um ser dotado da capacidade acrescida de exprimir as suas emoções e descodificar as dos outros. Daí decorre o aparecimento de uma diferença fundamental em relação aos outros primatas na sua capacidade em apreender o mundo e em se relacionar com os outros. E isto repercute-se necessariamente na sua maneira de viver a sexualidade.
O ser humano escapa assim às limitações da sua matriz biológica?
O ser humano mantém-se em parte condicionado pelas suas hormonas e as suas pulsões. Mas o seu neocórtex tem a possibilidade de ultrapassar o domínio dos imperativos biológicos. No ser humano, o sexo é sobretudo uma questão de representações. Estas constroem-se passo a passo durante a infância à medida que se forma o seu cérebro, na base da sua vivência afectiva, dos seus prazeres, dos seus sofrimentos. Um homem não sente desejo de cada vez que está em contacto com as feromonas femininas, como é o caso dos animais.
A aproximação entre dois seres é dominada pela representação que se faz do ser amado. Enquanto que o animal está envolvido no momento presente, o ser humano antecipa sem cessar a partir dos dados do seu imaginário. Torna-se assim senhor dos seus desejos e da sua sexualidade.”
Entrevista conduzida por Sylvia Vaisman, Science et Vie, n.º 200, Set. 1997
Em que medida a sexualidade humana é bio-psico-social? (Deixe a sua resposta na caixa dos comentários)
Olhando para o espectro multidimensional da sexualidade humana, uma pessoa apercebe-se que é extremamente difícil, se não mesmo impossível, fazer distinções nítidas entre traços herdados (sexo biológico) e hábitos adquiridos (sexo psicossocial). Certamente que, tanto a natureza como a educação desempenham um papel, mas exactamente a dimensão de cada um desse papeis, é muitas vezes difícil de determinar. Apenas uma coisa é certa: uma melhor compreensão da sexualidade humana requere os esforços combinados das ciências naturais e culturais. A sexologia, enquanto vertente interdisciplinar, tenta proporcionar justamente isso ao estudar mulheres e homens enquanto criaturas bio-psico-sociais.
https://www2.hu-berlin.de/sexology/ECP1/bio-psycho-social.htm